Especialista do Hospital da Criança ressalta a importância de diagnóstico precoce
‘Penso, logo sinto’. Esse é o slogan criado pela Secretaria de Estado da Saúde (SES) para o ‘Janeiro Branco’, campanha que tem o objetivo de alertar a população sobre a importância de cuidar da saúde mental. Mas não são apenas os adultos que precisam desses cuidados, crianças e adolescentes também necessitam de atenção quanto às necessidades emocionais.
O cérebro humano está em constante evolução e a infância é uma fase decisiva para o desenvolvimento cerebral. Os primeiros momentos da vida de uma criança têm repercussões que podem durar a vida toda. Por isso, é importante cuidar da saúde mental desde cedo. É o que afirma a médica do Hospital da Criança Dr. José Machado de Souza – unidade especializada de atendimento às crianças da rede estadual de Saúde de Sergipe – e residente em Psiquiatria pela Fundação de Beneficência Hospital de Cirurgia (FBHC), Heloysa Fernandes Silva.
“Infelizmente, a saúde mental das crianças e adolescentes é altamente negligenciada e muitos sequer têm acesso a serviços especializados. Foi observado que quase metade dos adultos com transtorno mental tiveram seus sintomas indicados antes dos 19 anos. Daí a importância do diagnóstico precoce e correto para que se possa minimizar os prejuízos e que tenhamos uma população mais saudável no futuro”, ressalta Heloysa.
A médica explica que é preciso entender que alguns comportamentos podem ser esperados em crianças pequenas, mas que podem causar estranheza em crianças maiores. E destaca que o diagnóstico sempre deve ser realizado por um profissional capacitado.
“Birras em menores de 3 anos podem significar surgimento da própria individualidade e ser absolutamente normal. Quando alguns comportamentos começam a trazer prejuízo na funcionalidade ou sofrimentos nas pessoas envolvidas, é necessário acender o alerta. Crianças que facilmente se irritam, são vingativas e discutem com pessoas de autoridade precisam receber uma atenção especial. Alterações no comportamento como padrões restritos e repetitivos também devem chamar atenção. É imprescindível que a criança seja encaminhada a um profissional especializado para diagnóstico e acompanhamento”, orienta.
Heloysa lembra que a pandemia da Covid-19 causou um impacto significativo na saúde mental das crianças. “Recentemente, vivemos com os prejuízos causados pela pandemia da Covid-19. Em 2020, um estudo realizado pela Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (USP) mostrou que um, em cada quatro crianças e adolescentes, apresentou ansiedade e depressão na pandemia em níveis clínicos”, pontua.
Apoio familiar
Diante dos sinais de alerta, a médica afirma que é possível prevenir certos tipos de transtornos mentais e ressalta que uma rede de apoio familiar é indispensável para garantir o bem-estar das crianças e adolescentes.
“Estressores psicossociais e traumas precoces, como abuso sexual na infância, estão intimamente ligados a comportamentos disfuncionais e transtornos mentais. Estudos recentes mostram a estreita relação entre a epigenética, que é quando um estímulo ambiental pode ativar ou silenciar alguns genes, e o surgimento de doenças mentais graves. Desse modo, um ambiente familiar seguro e acolhedor, longe de qualquer tipo de violência (física, verbal, sexual), é imprescindível para que a criança cresça de forma saudável e se torne um adulto que goze de boa saúde mental”, finaliza.
Foto: Flávia Pacheco
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