Palhaços-doutores trazem riso e transformação ao ambiente hospitalar

Atuação do grupo Palhaços de Propósito no Hospital da Criança leva alegria a pacientes, trabalhadores da saúde e acompanhantes

O dia 18 de janeiro é a data em que se celebra o Dia Internacional do Riso, quando se lembra a importância do bom humor como ferramenta terapêutica. Na Rede Pública Estadual de Saúde, o trabalho de voluntários dedicados a trazer o riso a pacientes, acompanhantes e profissionais vem fazendo a diferença e ajudando na superação de dificuldades. É o caso dos palhaços-doutores, ou palhaços de hospital, que trazem alegria ao cotidiano de quem frequenta as unidades hospitalares.

Para as crianças, a visita dos palhaços é ainda mais especial. Que o diga o coordenador do grupo Palhaços de Propósito, Moater Paulon. Na pele do Doutor Costela, Moater anima os corredores, salas e enfermarias do Hospital da Criança Dr. José Machado de Souza, em Aracaju, e testemunha a transformação causada pelo riso entre os pacientes. Para Moater, que concluiu o curso de palhaçaria em 2016, a mudança vai além do aspecto emocional.

“Queremos sempre gerar alegria, mudar as emoções, mas reparamos que acontece também a mudança física. Muda a pressão arterial, a circulação, a oxigenação. Muitas vezes a criança está deitada, sem conversar, sem ânimo. Quando chega o palhaço, em dois minutos ela está sentada, em quatro minutos ela está interagindo. Depois a gente recebe a notícia de que ela mudou de setor e, no outro dia, de que recebeu alta. E a gente leva isso com muita responsabilidade e equilíbrio, na medida certa, igual remédio”, resume.

Atualmente com 18 voluntários, o grupo Palhaços de Propósito atua no Hospital da Criança desde a sua entrada em funcionamento, em 2021. Moater conta que, ao receber o convite para conhecer o projeto do hospital, antes mesmo da inauguração, a proposta de atendimento o atraiu de imediato.

“Fomos convidados em 2019, nos apaixonamos e estamos aqui desde então. Um verdadeiro presente que ganhamos. Desde a obra, a gente percebia a humanização nas paredes, nas salas. Era tudo o que a gente havia estudado e identificado como fundamental”, ressalta.

Além de mudar o dia a dia dos pacientes, o trabalho dos palhaços-doutores afeta quem está ao redor. “A gente começou com foco na criança internada, mas, aos poucos, enxergamos outros atores no hospital. Você tem o administrativo, os profissionais de saúde, a limpeza… E isso muda completamente o clima do local. A gente também trata o acompanhante, porque ele determina muito do que a pessoa em tratamento vai sentir. Sobretudo crianças, que esperam muito a validação dos pais e responsáveis”, enfatiza Moater.

Genivan Andrade é um dos acompanhantes que conferiu de perto o trabalho dos palhaços. Seu filho Arthur Davi, de 5 anos, está há quase uma semana no Hospital da Criança com o quadro de epilepsia e cerebrite. Para Genivan, o riso trazido pelo grupo é um diferencial no cuidado dos pacientes. “Criança tem que ser feliz, tem que brincar e rir para se desenvolver. Então, é importante ter os palhaços aqui”, comenta.

Transformação

Para a superintendente do Hospital da Criança, Catharina Costa, a transformação causada pelo riso se estende em longo prazo. “O hospital é visto como esse ambiente frio, das máquinas, da doença. Trabalhando a socialização, inclusive através do riso, a gente vai humanizando esse ambiente e essa vivência. Isso faz com que o paciente vá perdendo o medo da agulha, do tratamento. No futuro, isso pode contribuir para que ele se torne um doador de sangue, um profissional da saúde. É uma mudança nas gerações”, sinaliza.

A mudança destacada por Catharina já começa a render frutos, como ilustra a existência de uma voluntária mirim entre os Palhaços de Propósito. “Somos o primeiro grupo no Brasil com uma voluntária criança, nossa doutora Batatinha. Inclusive, ela cortou o cabelo e doou para o Grupo de Apoio à Criança com Câncer (Gaac). Então, a gente já vê uma criança de 6, com 7 anos, que tem essa consciência social tão amadurecida. E ela diz que, quando crescer, quer continuar trabalhando com a gente”, conta o palhaço-doutor.

Moater salienta que o riso também muda a vida de quem o provoca. “Temos casos de voluntários que entraram no grupo com problemas emocionais e tiveram suas vidas transformadas. A persona, o palhaço, afeta a vida da pessoa, do profissional. Vemos pessoas que tiveram força para abrir um negócio, para tirar habilitação, para conversar melhor, depois de se tornarem voluntários. Nosso doutor, nosso palhaço, é o nosso avesso. Ele faz o que a gente não faz, fala o que a gente não fala, vai aonde a gente não vai”, diz.

Ainda segundo Moater, o riso foi um grande apoio durante momentos difíceis em sua trajetória e na de sua esposa, a voluntária Soraia Paulon. Soraia, que vive a Doutora Batata, enfrentou e venceu um câncer colorretal em 2021. “Você coloca o nariz vermelho e o palhaço entra em cena. Tanto que, no dia em que foi diagnosticada, tivemos uma ação externa. A Sol saiu e entrou a Batata. A gente já estava no ambiente hospitalar, atuava na oncologia, e colocamos em prática com ela o que dizíamos aos pacientes. Foram seis cirurgias, mas nós lutamos contra o câncer com alegria”, lembra.

Formação

Além do Hospital da Criança, outras unidades do Estado recebem o trabalho do grupo Palhaços de Propósito, a exemplo do Hospital Regional de Propriá e do Centro Especializado de Reabilitação (CER IV). “O palhaço de hospital aprende a atuar em um ambiente muito específico e diferente do circo e da rua, por exemplo. Temos que capacitar o voluntário, ajustar seu comportamento, maquiagem e fala. E como o número de voluntários que permanece é pequeno, é importante essa renovação”, frisa Moater.

Para conhecer o trabalho do grupo e receber informações sobre o curso de iniciação em palhaço de hospital, basta acessar o perfil @palhacosdeproposito no Instagram.

Hospital da Criança

O Hospital da Criança Dr. José Machado de Souza foi fundado com o objetivo de reforçar a Rede de Assistência Pediátrica no Estado e atuar junto com outras unidades hospitalares para garantir o direito fundamental à saúde para as crianças sergipanas.

A unidade atende, exclusivamente, pacientes de 29 dias a 12 anos, 11 meses e 29 dias com demandas de urgência em pediatria geral, ortopédica, oftalmológica, otorrinolaringologia e cirúrgica. Além disso, o Hospital da Criança também conta com gastropediatra, infectopediatra, cardiopediatra e anestesistas.

Foto: Arthuro Paganini

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