A retomada dos transplantes renais em Sergipe, nos dias 06 e 07 de outubro de 2022, após uma década, será marcada por histórias lindas de doação, afinal, por detrás de cada decisão de doar existem pessoas e motivações. Uma destas narrativas que faz parte do novo capítulo para a doação de órgãos e tecidos no estado, mostra uma sucessão de compatibilidades que uniram Josiene e Luiz, casal que há quase trinta anos se conheceu e uniu suas vidas com votos de estarem juntos na alegria e na tristeza, na saúde e na doença.

Durante vinte, dos vinte e seis anos de união, esse juramento foi colocado à prova e o casal precisou se fortalecer para enfrentar uma doença que, gradativamente, transformou a saúde e a vida de Luiz. A luta dele e de sua família pela recuperação começou quando recebeu o diagnóstico de nefrite nos dois rins, após realizar um exame periódico na fábrica onde ele trabalhava. “Eu estava em 2002 com 50% da função renal e, desde lá, venho fazendo tratamento convencional, dieta e remédios. Em 2021, descobri que eu já estava com apenas 13% de funcionamento dos rins e foi indicada a hemodiálise. Naquele momento caiu a ficha da doença que eu tinha. Eu ouvia muito falar sobre a máquina de hemodiálise, sempre que eu estava diante dela passava um filme na cabeça e eu me perguntava ‘por que isso aconteceu comigo?’. É preciso do apoio da família para enfrentar tudo isso”, expõe com emoção após terminar a última hemodiálise antes da cirurgia de transplante.

A esposa de Luiz, Josiene, ainda nos primeiros meses, acompanhando as idas e vindas do marido para a clínica onde realizava a hemodiálise, resolveu investigar a possibilidade de se tornar uma doadora para o seu marido e teve uma notícia que, para ela, era um verdadeiro milagre, um sinal de que ela deveria doar o rim. “Quando ele completou 3 meses de hemodiálise, eu procurei o médico dele para ver a possibilidade de ajudá-lo, dando meu rim para ele. Eu descobri que sou 100% compatível, então, desde janeiro estamos na luta para fazer o transplante e finalmente chegou o dia”, fala com ansiedade.

Para Luiz, hoje com 55 anos, ser receptor de um órgão que virá de Josiene é um motivo ainda maior de felicidade. “No momento em que o médico disse que o meu caso seria de transplante, ela logo falou: “quem vai te doar sou eu!” e está se realizando o que ela tinha afirmado. Esse ato só confirma a pessoa boa e generosa que ela é… E eu tenho a certeza de que a minha esposa faria essa doação a qualquer pessoa. O transplante vai me devolver a condição de uma vida normal, estou muito feliz por receber o órgão de alguém que está ao meu lado faz quase 30 anos, um ser de luz que Deus colocou em meu caminho. O fato de ser dela é algo a mais, é a cereja do bolo”, desabafa com gratidão.

A doadora viva carrega no sobrenome duas palavras que combinam com tudo o que ela sempre acreditou: ‘Fé’ e ‘Hora’. Para a técnica de enfermagem, Josiene da Fé Hora, nunca faltou a crença de que tudo daria certo e de que o momento ideal para ajudar o marido chegaria. “Eu tenho 18 anos de trabalho na saúde e o que a gente aprende é ‘ponha-se sempre no lugar do outro, do próximo, aí você verá o sofrimento do outro’. Eu acredito que vai dar tudo certo, porque se Deus me deu essa possibilidade de ser 100% compatível e ajudar o meu companheiro, ele tinha um propósito com isso. O rim que será doado será o direito que também não é comum em transplantes renais. Eu acho que quando a gente tem um ato de doação a gente vive em paz. Estou aqui pronta para doar para ele”, expressa com segurança.

Nesta entrevista, Josiene também deixou escapar que, logo após a recuperação, Luiz prometeu comprar um par de alianças como sinal de reafirmar uma união que se fortalecerá ainda mais com o transplante. Quando perguntado, Luiz garantiu que isso acontecerá o mais breve possível. “Eu só tenho a agradecer à minha esposa. É claro que a renovação do casamento vai acontecer, vamos reafirmar os nossos votos. Se quando a gente casou já éramos uma só carne, agora temos uma aliança ainda maior”, afirma Luiz com olhar apaixonado.

O fato de ter o transplante realizado em um Hospital público da Rede Estadual de Saúde de Sergipe, o HU da UFS, é outro fator que torna esse momento da doação ainda mais especial para o casal, pois, estarão próximos dos amigos e familiares. “O melhor é que o procedimento vai ser feito aqui em nosso estado, não vou precisar ir para fora. E tem também a parte financeira, com os transplantes sendo feitos aqui, isso vai ajudar as pessoas, pois, muita gente não tem condição de arcar com os custos de fazer a cirurgia em outros estados”, desabafa o transplantado.

O fruto da união entre as personagens desta história que está sendo contada, Cecília da Fé Hora, também pediu voz para deixar registrado o orgulho que sente do pai e da mãe. A jovem de 20 anos, acompanhou toda a entrevista da matriarca da família, com um brilho de felicidade explícito nos olhar. “Mãe, eu tenho muito orgulho da senhora e fico muito feliz desse gesto que está fazendo, vocês são as pessoas mais importantes para mim… São o maior exemplo de amor que eu tenho em minha vida. A senhora não está somente salvando a vida do meu pai, está também incentivando que outras pessoas também salvem a vida de alguém. Quando há a doação, o amor da vida de alguém estará sendo salvo”, fala olhando para a mãe e dando um abraço demorado nela.

No momento em que esta matéria especial está sendo publicada, Luiz e Josiene, se recuperam de uma cirurgia que foi um sucesso, ambos passarão por tempos diferentes de recuperação. O casal que desde o primeiro encontro nesta vida tiveram compatibilidades que os aproximaram, compartilham de mais um desejo em comum em relação à doação de órgãos e tecidos. “Que as pessoas passem a olhar com outros a doação de órgãos e tecidos, que incentivem outras pessoas a esse ato, que se sensibilizem, porque doar transforma e salva vidas”, falaram Josiene e Luiz que concederam a entrevista em lugares diferentes, ela em casa e ele na clínica.

Reportagem: Ewertton Nunes

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