Este ano, o grupo ganhou uma nova atuação com o Coral ‘Vida que Segue’, a partir do auxílio da laringe eletrônica

Com mais de três anos de implantação, um projeto desenvolvido no setor de Oncologia do Hospital de Urgências de Sergipe Governador João Alves Filho (Huse) tem promovido a melhoria da qualidade de vida de pacientes que precisaram fazer a retirada da laringe, a laringectomia total, por conta do diagnóstico de um câncer. A iniciativa é realizada pelo serviço de fonoaudiologia do Centro de Oncologia Dr. Oswaldo Leite da unidade hospitalar e já conta com a participação de mais de 15 pacientes. 

O projeto iniciou com o Grupo de Acolhimento aos Laringectomizados Totais (GAL) que desenvolve ações terapêuticas com foco na ressocialização, troca de experiências e suporte aos pacientes. Durante os encontros, os usuários participam de palestras e reuniões com temáticas pertinentes ao processo de reabilitação e esclarecimentos de dúvidas. 

Em 2023, o grupo ganhou uma nova atuação com o Coral ‘Vida que segue’, em parceria com a Universidade Federal de Sergipe (UFS). A evolução só foi possível graças à dispensação, pela Secretaria de Estado da Saúde (SES), do aparelho conhecido como “laringe eletrônica”, dispositivo que auxilia, em seu mecanismo, a produção da fala durante a utilização.  

A fonoaudióloga do Ambulatório de Oncologia do Huse, Margareth Andrade, destaca a importância de todo o trabalho desenvolvido ao longo dos anos. “O nosso objetivo foi permitir que eles pudessem se identificar com a nova condição funcional e estrutural, além de se fortalecerem diante dos desafios. O trabalho em grupo, complementar ao atendimento individual no consultório, possibilita a melhora na qualidade de vida dos pacientes, bem como o aprimoramento da voz. A partir da dispensação da eletrolaringe, pacientes que não conseguiram reabilitar com a voz esofágica puderam ter outra possibilidade de comunicação, viabilizando a formação do primeiro coral de laringectomizados de Sergipe”, salientou. 

Além do aprimoramento vocal, seja ela a esofágica ou via laringe eletrônica, o trabalho fornece também orientações quanto à questão respiratória por conta do traqueostoma definitivo. O aposentado Luciano Souza, de 73 anos, participa do projeto desde o início. Em 2019, foi diagnosticado com um câncer e precisou fazer a retirada total da faringe. “Quando recebi a notícia que teria que fazer a cirurgia e ia perder a voz, senti muito.  Perder a voz foi uma das coisas mais difíceis da minha vida “, comentou. A indicação cirúrgica para laringectomia total é voltada para casos avançados da patologia, ocasionando, entre outras perdas, a das pregas vocais, estruturas que permitem a produção natural da voz.

Hoje, ele pode contar a sua história com auxílio do aparelho de “Laringe Eletrônica”, além de ser uma das vozes do coral. “Recebi esse equipamento com grande alegria. Esse aparelho é um dos mais avançados que existem com oito modulações de voz, permitindo desenvolver um trabalho melhor, principalmente no canto, para expressar os sentimentos por meio da voz”, acrescentou. Assim como Luciano, outros pacientes que estão em tratamento e/ou acompanhamento no Huse já foram beneficiados com o dispositivo eletrônico.

Coral “Vida que Segue”

A implementação do Coral “Vida que Segue”, como uma atuação do grupo, traz um papel significativo e o trabalho de musicalização permite aprimorar a voz, como a entonação e frequência vocal, além da melhora da autoestima. O projeto conta com o apoio da Universidade Federal de Sergipe (UFS). 

Segundo a professora e coordenadora do Departamento de Música da UFS, Aline Araújo, a iniciativa integra um grande projeto da instituição de ensino, o Circuito Musical Sergipano. “Desenvolvemos várias ações com grupos musicais e atendimentos voltados para a comunidade. Além do foco de socialização, acaba sendo um aprendizado este trabalho aqui no Huse. Enquanto departamento de Música, levamos a musicalidade, trabalhando a parte rítmica. Temos voluntários que colaboram com o projeto e também pensamos na perspectiva da criação de um material musical específico que possa apoiar outros corais em todo o país”, enfatizou.

Em recente apresentação no auditório da unidade hospitalar, o Coral “Vida que Segue” encantou colaboradores e familiares dos pacientes em um evento alusivo ao Natal. “Foi uma apresentação maravilhosa. Amei. Incentivei o meu marido a participar e, hoje, partilho de um sentimento de grande alegria com ele cantando no palco”, disse a senhora Dalca Souza, esposa do participante Luciano Souza.   

Representando a Pró-reitoria de Extensão da UFS, a professora Tereza Raquel Sena também participou do encontro. “É uma alegria estar aqui. A música é arte e esses projetos são maravilhosos porque a universidade tem essa proposta de inclusão. É um encontro de ressocialização para eles e representa bastante para quem participa e para todos que estão envolvidos nesse projeto. Nessa época de Natal, o presente é nosso porque essas pessoas transmitem o que existe de mais bonito que é a esperança, a vida, o amor e dias melhores”, destacou a docente.

Sobre a eletrofaringe

A laringe eletrônica é considerada uma grande aliada na melhoria da qualidade de vida de pacientes que foram submetidos à laringectomia total, ou seja, retirada total da laringe, em decorrência do câncer, perdendo a capacidade de produzir a voz. Com a aproximação da eletrolaringe na região do pescoço ou boca com uso de adaptador oral, ocorre a vibração das estruturas e a onda sonora produzida pelo equipamento alcança o trato vocal.

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