O Comitê Estadual de Prevenção à Mortalidade Materno-Infantil e Fetal da Secretaria de Estado da Saúde (SES), reuniu-se para discutir a mortalidade por sífilis em Sergipe. Na ocasião foram apresentados dados sobre a situação epidemiológica com destaque para os casos de óbitos relacionados à doença.
A reunião contou com a presença da Gerência de Doenças Transmissíveis, Coordenação de vigilância em Saúde, Técnicos de Referência da sífilis, Universidade Federal de Sergipe, maternidades públicas, Sociedade Sergipana de pediatria, MST, Conselho Estadual dos Direitos das Mulheres, dentre outras representações da sociedade civil.
“Nós trouxemos dados do cenário epidemiológico de cinco anos, apresentamos números relacionados ao pré-natal, maternidades, sífilis congênita em gestantes e mortalidade em recém nascidos. As estatísticas revelam que, em relação à sífilis adquirida (em adultos), gestantes e sífilis congênita, houve aumento de casos. Em relação à mortalidade, 90% das ocorrências que envolvem recém-nascidos com sífilis congênita, as crianças sobrevivem, são os chamados ”nascidos vivos’’, descreve João Lucas Lima, gerente de doenças transmissíveis da SES.
A presidente interina do Comitê Estadual de Prevenção à Mortalidade Materno-Infantil e fetal, médica sanitarista Priscila Batista, explicou que as reuniões do comitê são bimestrais e o tema da mortalidade relacionada à sífilis, surgiu na última reunião, a partir do panorama da mortalidade materna-infantil em Sergipe nos últimos 10 anos.
“”Apesar de não observarmos aumento significativo na mortalidade por sífilis, nossa incidência persiste muito elevada, infelizmente, conforme apresentação da Vigilância Epidemiológica. O debate foi profícuo e saíram algumas propostas para diminuir a subnotificação e enfrentar problemas que vão desde a atenção primária com o pré-natal e cuidado das crianças menores de 1 ano, passando pela maternidade. Hoje conseguimos deliberar algumas recomendações nesse sentido, para refinar ainda mais o diagnóstico, identificando os principais problemas e cidades com casos. A sífilis é uma doença altamente evitável, que possui tratamento, então, precisamos nos unir para reduzir os índices”, compartilha Priscila.
Débora Leite, diretora técnica do Hospital e Maternidade Santa Isabel, reforça a relevância do comitê enquanto espaço de articulação. “O comitê é uma semente, a pandemia nos separou um pouco, agora estamos nos reaproximando neste espaço para pensar e analisar os dados, os indicadores falam por si e precisamos começar a divulgar esses números. A Saúde precisa começar a falar com a Educação e Assistência Social para fomentar novas políticas.
Para a diretora, a sífilis é mais do que uma doença, é um problema de ordem social que está conectado com outros direitos fundamentais. “Eu acho que o grande desafio desse contexto que afeta a assistência materno-infantil, é o vínculo à realidade social. Percebe-se que à medida que os indicadores sociais melhoram, há uma redução de mortalidade infantil, como já vimos em anos anteriores. Em relação à sífilis congênita, tem a ver com o comportamento da família, pauperização da sociedade, pois, é comum ver gestantes se reinfectando, mesmo com tratamento e testagem disponíveis gratuitamente no SUS. Por isso, a gente percebe que não é somente no tocante à saúde que será resolvida essa problemática, o social precisa vir junto para que tenhamos melhor qualidade de vida para a população”, reflete.
Érika Leite Santana, representante do Conselho dos Direitos da Mulher e coordenadora de Política para as Mulheres na Secretária de Estado da Inclusão e Assistência Social, também acredita que a interseccionalidade é a melhor estratégia para mudar o panorama da sífilis em Sergipe. “Eu acho que, para qualquer política pública ser desenvolvida no âmbito do estado, é preciso o tripé Saúde, Educação e Assistência, seja no viés da sífilis ou qualquer outra doença. Hoje os dados apresentados mostram que o grande número casos de mulheres, adolescentes diagnosticadas com sífilis tem baixa escolaridade, por isso, é fundamental olhar para essa interseccionalidade e trabalhar a educação sexual na prevenção de doenças, assim como, o acolhimento à essa família vulnerável que, muitas vezes, não tem estrutura, passa por abandono escolar e precisa da assistência dos CRAS e CREAS. Uma rede precisa trabalhar em conjunto e não em ilhas, é trazer todos para essa discussão e conhecer o que cada um tem feito em relação ao tema da sífilis e juntos pensar estratégias mais céleres dentro das políticas públicas”, enfatiza.
Foi a primeira participação de Érika numa reunião do comitê, a representante ficou satisfeita com as discussões. “Eu acho necessário este comitê, há uma riqueza muito grande de participação, de muitas representações e, inclusive, já provocando em reunião que possamos agregar outros órgão estaduais à construção, para que cada um dentro da sua pasta possa fazer um debate conjunto e, assim, criarmos uma unidade de propostas. Quem sabe assim, nos próximos meses teremos resultados mais concretos para a questão da Sífilis em Sergipe”, reforça.
A presidente do comitê, Priscila Batista, esclareceu que a SES já possui uma articulação com as secretarias da Educação e Inclusão Social em outros projetos e fará o convite para que integrem também as discussões no comitê. “O problema da sífilis não é apenas um problema da Saúde, tem haver também com educação, cultura, assistência social, ou seja, um conjunto de políticas públicas que podem impactar na melhoria da Sífilis. A Educação e a Assistência Social já estão em outros projetos transversais junto com a SES, como o Sergipe pela Infância.”
A próxima reunião do comitê para aprofundar ainda o debate sobre a sífilis e iniciar uma discussão sobre a situação da Covid-19, no tocante à mortalidade materno- infantil, será no dia 28/4, às 9h.
Fotos: Ewertton Nunes
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