Em alusão ao Dia Mundial de Combate às LER/DORT (Lesão por Esforço Repetitivo e Distúrbios Osteomusculares Relacionados ao Trabalho) – em 28 de fevereiro, a Secretaria de Estado da Saúde (SES), em parceria com a Fundação Estadual de Saúde (Funesa), através da Coordenação de Educação Permanente em Saúde, realizou uma Mesa Redonda com o objetivo de sensibilizar trabalhadores, empregadores e sindicatos sobre a importância da prevenção das doenças. A ação também foi voltada a fisioterapeutas, odontólogos, bancários, enfermeiros, profissionais de telemarketing, correios, entre outros.
A área de Vigilância em Saúde do Trabalhador entende que esse é um tema muito importante e atual, sobretudo com dois anos de pandemia da Covid-19, quando trabalhadores precisaram trabalhar na modalidade home office. De acordo com a gerente de Vigilância em Saúde do Trabalhador da SES e referência técnica da ação, Cristina S. de Andrade Hora, é necessário atenção aos dados do sistema de informação que comprovem casos, além de conscientizar trabalhadores/profissionais de saúde e trabalhadores em geral. “Conscientizar da importância, do nexo, da relação com o trabalho, da doença relacionada ao trabalho, da notificação, sobretudo para que a gente trabalhe as políticas públicas relacionadas à doença. Nos últimos dois anos, na condição de pandemia, tivemos apenas quinze notificações de casos relacionados ao trabalho”, disse.
O fisioterapeuta Maurício L. Poderoso Neto explanou sobre conceitos que envolvem a LER e a DORT, e o que causa as DORTs, ideologia multifatorial e insidiosa que tem maior prevalência em sintomas de membro superior. “Os sintomas são: sensação de peso, fadiga, parestesia e principalmente dor. As principais reclamações, principais queixas que os pacientes chegam ao consultório são tendinites e bursites, muito associadas ao membro superior. A tendinite do supra-espinhoso, bursite subacromial e as afecções da coluna vertebral, sejam dores cervicais ou dores lombares, que acredito ser a ampla procura da fisioterapia para a patologia das DORTs”, disse.
Maurício afirma que, de forma geral, a DORT se torna crônica para a grande maioria dos pacientes, e que a abordagem do processo terapêutico como um todo deixa de ser puramente biomecânico, apenas sobre os tecidos que estão afetados, para ser uma abordagem mais multifatorial em cima da pessoa e não só da patologia. “Isso ocorre porque os pacientes apresentam um quadro de depressão, limitação e incapacidade para o trabalho, comprometimento em suas atividades de vida diária. Esses fatores comprometem o sono e o humor, o que gera, inclusive, a possibilidade de uma baixa autoestima e depressão”.
Durante a ação, o fisioterapeuta informou que também há necessidade de uma intervenção médica para fazer as melhores indicações medicamentosas, sejam locais ou de efeito central. Na maioria dos pacientes é preciso um tratamento acompanhado por psicólogo, por envolver questões biopsicossociais. “Clinicamente também são encontradas muitas afecções no trato gastrointestinal nos pacientes crônicos, que necessitam de um acompanhamento nutricional. Dessa forma, há melhora na qualidade de vida, na prática da atividade física regular, controle de peso. Se tiverem patologias crônicas sociais, como diabetes e hipertensão, a gente precisa estar ciente e fazer abordagens de forma geral”, frisou.
Multidisciplinaridade
Para o médico ortopedista Washington Batista a LER/DORT é um mundo de informação, daí a discussão focou nos principais casos, principalmente nos centros urbanos, que em aproximadamente 90% dos casos acometem a coluna, punhos e mãos dos pacientes que estão em regime de trabalho home office e que atuam na rede hospitalar de saúde. “São movimentos complexos, onde todo o corpo é prejudicado. Abordamos o viés social de que nem sempre a lesão é acompanhada de rastro em exame de imagem ou de laboratório. Às vezes não há indícios, mas uma questão clínica mesmo”, explicou.
O ortopedista também destacou sobre a conotação social, conotação psicológica, o exame clínico durante o diálogo com o paciente. “Conseguimos enxergar por outra ótica, como a visão fisioterapia, da psicologia, da terapia ocupacional, da legal. Foi uma discussão muito produtiva e espero que esse debate exista em outras oportunidades, além de uma sensibilidade por colegas médicos do trabalho nas empresas, quanto dos peritos médicos, para entendermos que há pessoas que não buscam ajuda, mas muitos têm lesão e precisam de acolhimento e acompanhamento”.
Maurício L. Poderoso Neto acredita que, através dessas discussões, da troca de saberes e conhecimento entre profissionais, gestores e população, é possível direcionar recursos, o olhar, e melhorar a abordagem. “Por isso a gente precisa cada vez mais discutir, alinhar os percursos. Há alguns séculos já existia LER, especificamente por movimentos repetitivos. A partir dessa condição havia a indicação de adequação de mobília, ginástica, repouso. Atualmente sabe-se que essas estratégias mais passivas não trazem o efeito desejado e necessário para que essa pessoa saia desse quadro como um todo. Então, a partir dessas discussões, a evolução da ciência, há melhores resultados”.
Ainda de acordo com Cristina, o trabalho é desafiador e a discussão enriquece quando há várias áreas envolvidas, a exemplo da abordagem feita pelo psicólogo do Centro de Referência em Saúde do Trabalhador (Cerest)/SES, Elder Magno Freitas, que discorreu sobre a LER/DORT sob a perspectiva da Saúde do Trabalhador, além de transtorno mental relacionado ao trabalho. “São doenças registradas no sistema de informação do Ministério da Saúde, inclusive pouco notificadas. É um trabalho de formiguinha, praticamente de educação continuada, mas que é importante fazermos isso nos próximos anos e aproveitar a data do dia 28. Entendemos ser fundamental o engajamento de diversos setores. Por isso convidamos diversas categorias, sindicatos, conselhos de classe, nossos trabalhadores e profissionais do município, setores de vigilância epidemiológica, coordenação da Atenção Primária à saúde, etc”, ressaltou a gerente.
Fotos: Ricardo Pinho
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