A Secretaria de Estado da Saúde (SES) realizou nesta quinta-feira, 02, o Seminário Estadual de Práticas Integrativas e Complementares de Saúde. O evento aconteceu na Faculdade Pio X e mobilizou cerca de oitenta profissionais da Rede Estadual de Saúde, estudantes universitários e representantes de movimentos sociais que anseiam a ampliação das Práticas Integrativas e Complementares de Saúde (PICS) no Sistema Único de Saúde (SUS).
“As PICS intercalam práticas holísticas com práticas clínicas biológicas, ou seja, somam as práticas de saúde tradicionais ao conjunto de outras ciências terapêuticas e culturais, tais como, práticas milenares chinesas, indígenas, etc. Desse modo, agregam aos serviços de saúde toda a complexidade que existe na medicina não tradicional, abordando os mais diversos aspectos de nossa humanidade. São outras formas de se relacionar com o corpo e promover saúde, são complementares porque temos um Sistema de Saúde que está estruturado em práticas tradicionais, mas as PICS ampliam o escopo de atuação e assistência às pessoas, elas são potencializadoras da assistência à saúde”, explicou o diretor de Atenção Primária à Saúde da SES, João Paulo Brito.
O evento foi idealizado e organizado pela Gerência de Ações Programáticas da Coordenação Estadual de Atenção Primária à Saúde, em colaboração com o Núcleo Educação em Saúde da SES e apoio logístico e parte metodológico da Fundação Estadual de Saúde (FUNESA). No turno da manhã a mesa foi composta pela professora Tereza Raquel Sena (UFS), Leonardo Ferreira de Almeida (Ministério da Saúde em Sergipe), Lavínia Aragão (Funesa), Elisônia Moura (Conasems/Cosems). Além destes, dos representantes do Ministério da Saúde Christiane Santos Matos e Daniel Amado (CNPICS/MS) que participaram de maneira remota.
“A SES promoveu oficinas junto com o conselho de Saúde, Funesa, UFS e municípios para o Plano Operativo de 2022 e este seminário faz parte das ações. O objetivo é atingir o maior número de municípios, mostrando todo o trabalho realizado para fortalecimento das políticas de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde. A SES tem um olhar muito especial para as PICS como, por exemplo, os projetos: ‘Cuidando do Cuidador’, ‘CER CUIDA’, realizado no CER IV, ‘Servidor Zen’ que é conduzido pelo Núcleo de Apoio à Saúde do Trabalhador (NAST), ou seja, a SES sempre demonstra um interesse que não somente o público externo tenha acesso às PICS, mas também o nosso público interno, os trabalhadores, se utilizem destas práticas para a melhor qualidade de vida”, relatou Rosely Fernandes, referência técnica das Políticas de Práticas Integrativas de Saúde e Políticas de Equidade da SES.
O município de Canindé compartilhou experiências exitosas com a inserção das PICS nas rotinas da Atenção Primária à Saúde. De janeiro de 2021 a fevereiro de 2022 foram realizados no Posto de Saúde da Família – Antônio Apolônio Costa, um total de 8.254 atendimentos a pacientes usuários do SUS nas práticas de massagem, reiki, ventosaterapia, auriculoterapia, escalda pés e orientação fitoterápica.
“A experiência com as PICS chegou através de trabalhos voluntários do Movimento Popular em Saúde (MOPS) e, desde o ano passado, a gestão teve interesse em implantar no município. Os resultados têm sido surpreendentes, muitas pessoas já diminuíram as medicações alopáticas com a aplicação do Reiki, massagem, orientação fitoterápica, por exemplo, esses pacientes são atendidos a cada oito dias. Nós temos depoimentos de pacientes que deixaram de utilizar a medicação controlada, principalmente, aqueles que sofrem de ansiedade e depressão”, compartilhou Berenice Aparecida de Jesus, coordenadora de práticas integrativas e complementares de Saúde do município de Canindé do São Francisco.
Para a estudante de fonoaudiologia da UFS, Mayra Santos, a experiência do município de Canindé é a prova de que as PICS são essenciais para o atendimento integral aos usuários do SUS. A estudante realizou em seu Trabalho de Conclusão de Curso (TCC), uma pesquisa sobre práticas integrativas na fonoaudiologia. “Eu identifiquei que poucos fonoaudiólogos praticam a auriculoterapia e o quanto precisamos de incentivo a essas práticas. Há um estigma muito grande ainda, perceber que a discussão está crescendo em relação às PICS me deixa muito feliz, pois elas são essenciais para conseguirmos promover a saúde de maneira integral”, expõe.
Ela acredita ser necessário inserir na formação dos profissionais de saúde as Práticas Integrativas e Complementares. “Eu acredito que devem estar inseridas desde a graduação. Em meu TCC eu também pesquisei quantos professores estão capacitados para PICS e verifiquei que no Brasil ainda são poucos. Em Sergipe a professora Tereza sempre traz essas discussões na graduação, mas ainda há pouco conhecimento de maneira geral. Eu acho que as PICS oportunizam vermos a saúde do usuário do SUS de maneira mais holística, as práticas alopáticas tratam a doença e não vêm o sujeito como um todo, onde ele está inserido, os problemas que podem levar à hipertensão, depressão e outras doenças. De repente são problemas sociais que potencializam esses quadros, por isso, as PICS se apresentam como outra forma, além da medicamentosa, de tratar os pacientes”, salienta Mayra.
A professora da Universidade Federal de Sergipe, Tereza Raquel Sena, assegurou que a instituição já tem as PICS dentro das ações de ensino, pesquisa e extensão. “A UFS tem um compromisso com o conhecimento e a formação dos nossos alunos, desde o ensino com a graduação e pós-graduação, às ações de pesquisa e extensão. A formação em relação às PICS tem sido pensada em alguns departamentos, na enfermagem estão presentes em disciplinas optativas e práticas, na extensão por meio de cursos e eventos que são ofertados à sociedade em geral. Além disso, temos oferecido o título de Grau de Mérito Universitário, que é uma certificação do conhecimento tradicional destinada àqueles que possuem um conhecimento ancestral, de longa data, tais como representantes indígenas, quilombolas, benzedeiras, rezadeiras e outros. Esses profissionais entram para a UFS para somar e compartilhar o conhecimento, é uma experiência onde todos crescem, se beneficiam e fazem um mundo mais saudável”, salienta a docente.
A coordenadora nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde do Ministério da Saúde (CNPICS/Desf/Saps/MS), Christiane Santos Matos, reforçou que a Política Nacional de PICS do SUS, completou dezesseis anos de integração ao Sistema Único de Saúde em 2022. Em sua participação on-line trouxe um panorama geral sobre o contexto internacional das PICS, destacou também a realidade em âmbito nacional, ressaltando a implantação da Política nacional de práticas integrativas e complementares no SUS no território brasileiro. “As PICS atuam na promoção da saúde, prevenção e recuperação, levando em consideração o ser integral em todas as suas dimensões e muitos países oferecem esse serviço. Para nós, as PICS tem uma característica mais profunda, elas promovem uma transformação na visão do que é saúde. Sendo assim, entrar em contato com determinadas práticas nos possibilita uma mudança de consciência em relação a quem somos, o que viemos fazer no mundo e sobre qual mundo queremos construir”, expôs.
Em paralelo ao seminário, numa parceria com a Faculdade Estácio de Sergipe e Movimento Popular em Saúde (MOPS), os participantes puderam desfrutar em duas salas, de algumas práticas integrativas: fisioterapia, ventosaterapia, auriculoterapia, massoterapia, reiki e rezadeira. “A manhã foi muito proveitosa com essas práticas integrativas, Eu acabei de receber uma massagem, afinal, todos os trabalhadores precisam tirar um tempo para cuidar da própria saúde, é preciso cuidar do cuidador”, relatou Arnol Calixto Neto, enfermeiro e referência técnica em Saúde Mental da SES.
Os participantes puderam, ainda, adquirir artigos como óleos essenciais, ervas e outros produtos naturais. A aromaterapeuta, Gabriela Vargas, garante que através do cheiro é possível tratar uma série de doenças. “O que venho oferecer através dos meus produtos é a saúde física e mental, uma alternativa natural para as pessoas cuidarem do corpo e da mente, os meus produtos não causam efeitos colaterais, o tratamento é ofertado pela aromaterapia. É um tratamento ainda muito desconhecido para muitas pessoas, mas eventos como este ajudam a divulgar. Hoje todos temos problemas que afetam o nosso corpo, os óleos essenciais extraídos das plantas são uma forma natural de tratar a ansiedade, proporcionar o emagrecimento, auxilia na saúde de crianças com autismo e servem até como complementar no tratamento de pacientes com câncer”, assegura.
O Seminário Estadual é a materialização de que a Secretaria de Estado da Saúde continua trabalhando para avançar, cada vez mais, em relação à aplicação da Política Nacional de Práticas Integrativas e Complementares em Saúde no SUS, construindo um caminho para que sejam incorporadas, efetivamente, aos serviços ofertados à população em todo o território sergipano.
Foto: Flavia Pacheco
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